domingo, 29 de maio de 2011

A DESPEDIDA DE UM SÍMBOLO

ABDIAS DO NASCIMENTO NÃO REALIZOU O SONHO DE VER UM PRESIDENTE NEGRO

    Um ano atrás, na que deve ser uma de suas últimas entrevistas, Abdias do Nascimento, à maneira de Martin Luther King, declarou:
"Eu tenho um sonho: ainda quero ver o negro mandando nesse País. Não é nenhuma coisa exorbitante, nada demais querer isso, por que o negro tem direito a isso. Direito de ocupar qualquer posto, qualquer cargo na política, na administração pública, no ensino. Meu sonho é ver o negro nos postos de direção do País. E vou ver! Acho que ainda vou ver isso vivo".
    Não deu tempo. Aos 97 anos, Abdias faleceu no Rio, na terça-feira 25, vitimado por uma pneumonia. Considerado um símbolo do movimento negro no País, ex-senador e ex-deputado federal, estava internado desde abril e seu coração não resistiu à doença.
    Parceiro de Leonel Brizola na fundação do PDT, Nascimento também teve papel importante no teatro. Em 1944, criou o Teatro Experimental do Negro, que revelou muitos atores negros, como Ruth de Souza e Milton Gonçalves. Publicou mais de 20 livros.
    Em 1995, ao lançar seu livro de pinturas Orixás, os Deuses Vivos da África, soou exagerado ao dizer que "no Brasil se mata negro como se mata cão". O Mapa da Violência divulgado em fevereiro lhe deu razão: de cada três assassinados no País, dois têm pele preta.

*Revista Carta Capital
  

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